Nada te amedronte.
Tudo passa, só Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
A quem tem Deus nada falta.
Tudo passa, só Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
A quem tem Deus nada falta.
Só Deus
basta!"
A oração é o espaço privilegiado do
encontro entre Deus e a pessoa humana, no qual se realiza o milagre da
transformação. Deus se assenta à mesa do homem e da mulher, gosta de estar
com eles, com a finalidade de comunicar-lhes sua própria natureza. Por parte da
pessoa isso exige, no domínio da oração, uma disposição desprendida e amorosa;
a oração não é uma prática onde buscar-se a si mesmo, onde achar consolos
espirituais, mas a porta aberta à ação de Deus que, a seu ritmo e não ao nosso,
nos irá fazendo saber de sua amizade e amor, tomando as rédeas de nossa vida.
Jesus Cristo, sua sacratíssima Humanidade, possui um papel insubstituível neste
processo: nele fomos salvos e por ele Deus nos faz todas as mercês necessárias
para nossa transformação à sua imagem; abandonar-lhe é fechar a passagem a
qualquer progresso espiritual.
“Santa Teresa descreve a oração como diálogo de amor com
quem nos ama. O acento está posto no “sabemos que nos ama”, e na relação em si
mesma, fundamentada nesse saber. Os conteúdos do diálogo, a metodologia a
seguir, os frutos a tirar da oração não perdem importância, por isso, mas
passam para segundo lugar. O que importa é o amor que se acolhe, e uma amizade
que se cultiva. Segundo a descrição, acabada de citar, o ponto de partida
necessário para entrar em oração é o de exercitar, na fé, a consciência de ser
amado por Deus”.
“A consciência de ser previamente amado, o saber-se amado
por Deus, a fé em como tudo na oração depende da ação de Deus mais do que do
nosso protagonismo humano, é a condição objetiva e subjetiva da oração cristã,
e não menos da oração teresiana”.
“Sendo a oração o diálogo amoroso com Aquele que nos ama, é
normalíssimo que Teresa afirme que o amor é a característica essencial da
oração e chegue mesmo a dizer que «é o amor que ora» (V 34,8). Melhor ainda, é
o sentimento amoroso da presença de Deus em nós, que origina a nossa oração. A
relação orante nasce, assim, sempre do orante divino, ou seja, da iniciativa
amorosa de Deus, acolhida pelo orante humano, que ora da própria oração de
Deus, isto é, ama com o próprio amor de Deus. O amor com que Cristo nos ama é a
«fonte» da nossa oração, a saber, do nosso amor a Deus e aos irmãos”.
“A passagem da simples fé à experiência de fé verifica-se no
caminho da oração teresiana. Podemos dizer que ela, na sua oração, parte da
«consciência de fé» da presença de Deus para chegar à «experiência de fé» de
Deus presente na sua alma. É desta experiência da presença de Deus na sua alma
que deriva o seu magistério da oração, centrado na presença de Deus. Este estar
presente ao presente de Deus, em ordem a viver o presente de Deus e a «viver no
presente» e não no passado, nem no futuro, torna-se dinamicamente obediência ao
mandamento de «permanecer no seu amor», através do «tratar de amizade» na
oração. Então, o orar é amar, quer dizer, é «um entreter-se amigavelmente com o
Senhor», que nos ama com «amor de amigo»”.
“Já vimos como a categoria da «amizade» exprime a essência
da oração teresiana. Vemos agora como a passividade do amor divino gera em nós
a reciprocidade de amor, que é a amizade, em que o receber (o ser amado) se
converte num dar, num amar Deus com o amor de Deus. Deus «ama-nos exactamente
como somos», não porque sejamos bons, mas porque é amor”.
“Apesar das proximidades, mantêm-se as distâncias, devido à
diferença de condição entre os orantes, que são, neste caso, os amantes e os
amigos. Teresa no-lo diz femininamente bem, no seu dizer do comportamento fiel
de Deus à sua aliança, que contrasta com a incapacidade de fidelidade humana.
Na verdade, se o homem não é, por si, capaz de amar a Deus, também não é capaz
para o diálogo de amor com Deus que é a oração. Apenas deixando-se a amar por
Deus, é que Deus o capacita para amar e, consequentemente, para orar”.
“Esta diferença entre os amigos, torna esta amizade
totalmente especial e particular. É uma «amizade teologal», isto é, uma amizade
com Deus. Esta amizade chega mesmo a ser de caráter esponsal. Ela faz dos dois orantes
um orante”.
“Esta amizade esponsal faz dos dois amantes «um amado, um
amor, um amante», para usar a terminologia de S. João da Cruz”.
“A entrega de amor incondicional a Deus e a resposta divina
– a união total e eterna – são a maior exaltação que pode alcançar um coração
humano, o estádio mais alto da vida de oração”.
“A oração é, no parecer de Teresa, «um estar… com quem
sabemos nos ama». A oração é a presença à Presença de Deus”.
“Orar é «estar», aqui e agora, a «tratar de amizade» com
Deus”.
“Orar é uma questão de vontade, de «querer estar» com o
Senhor, apesar das distrações e securas. Com estas palavras, Teresa ensina a
permanecer na consciência atual de sermos e estarmos a ser amados pelo Senhor,
especialmente na oração, na ciência de que o Deus orante nos está amando, para
podermos estar amando o Deus orado, o Amado”.
“Apresenta-nos o carácter dinâmico da oração como uma busca
interior do Bem-Amado. A palavra de Jesus – «Permanecei em Mim, que Eu
permaneço em vós» - converte-se poeticamente em Teresa no «Alma, buscar-te-ás
em Mim, e a Mim buscar-me-ás em ti»”.
“Teresa fala da
interioridade orante, por um lado, como a nossa presença n’Ele - «Buscar-te-ás
em Mim» - e, por outro, como a Sua presença em nós: «A Mim buscar-me-ás em
ti»”.
“A oração, quer o saibamos quer não, é o encontro da sede de
Deus com a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d’Ele»”.
“A oração, enquanto relação entre dois amigos, é uma
linguagem do coração expressa no silêncio do olhar amoroso. O Senhor está
presente e olha-nos com amor. Orar é
estar a ser olhado pelo amor do Senhor e a olhá-lo com amor’.
“A oração chega, assim, a ser o «respiro da vida». E como a
vida é movimento, assim a oração acompanha o movimento da vida e do amor.
Porque se vive e ama sempre, sempre se ora o amor da vida. Esta centralidade
que a oração ocupa na vida, advém-lhe do primado do amor, razão única de viver.
Teresa fala deste dinamismo orante, sempre bem à sua maneira de praticante fiel
do exercício da oração mental.”
“Pensar e entender o
que falamos, e com quem falamos, e quem somos nós os que ousamos falar com tão
grande Senhor. Pensar nisto e noutras coisas semelhantes, o pouco que O
temos servido e o muito que somos obrigadas(os) a servi-Lo, é oração mental”.
“Uma leitura lógica da descrição de Teresa sobre a oração,
isto é, de trás para a frente, realça, antes de tudo, a iniciativa amorosa de
Deus, quem primeiramente amou o homem. Esta fé experiencial do Deus-Amor é não
só a condição de possibilidade da oração teresiana, mas a própria oração
teresiana, entendida e vivida como um dom de Deus ao homem e, vice-versa, um
dar-se e um doar-se do homem a Deus.
Santa Teresa de Jesus e o Jardim da Oração
A
oração é o enamoramento de Deus em que não somos mais capazes de ficar sem ele,
não podemos deixar de falar dele porque o coração está cheio de sua presença.
O
caminho da santidade, para Santa Teresa, é a oração.
Ela
ensina a oração em 4 etapas:
"Santa
Teresa de Jesus no Livro da Vida, compara a vida espiritual com o projeto de
irrigar um jardim.
O cultivo do jardim se dará em 4 estágios que marcarão as etapas da vida espiritual. Santa Teresa fala de 4 maneiras diferentes de se regar o jardim. Assim a oração é classificada em 4 graus.
1º Oração discursiva: o iniciante rega o jardim tirando água do poço com um balde. O método de irrigação é rústico. É tempo de grande dificuldade, tentação, falta de disciplina. É um caminho pedregoso, onde a vida de oração é dificultada pela aridez, secura, inquietação e distração. Há o predomínio da oração mental e as leituras espirituais são de grande importância neste período.
2º Oração de quietude: aqui o orante já utiliza uma gangorra para puxar a água do poço, ele consegue tirar maior quantidade de água com menos esforço. Já foi realizado um contato com o Deus; a oração não causa fadiga, ainda que dure muito tempo. Nesse período há o predomínio da oração de quietude. A oração é experimentada com suavidade e sem ruído. A pessoa não se preocupa em acionar o entendimento e a imaginação para buscar palavras para dar graças e nem para pedir coisas. A vontade permanece fixa e ligada ao seu Amado.
3º Oração de união ordinária: agora o jardim é regado com água corrente de um rio ou de uma fonte de irrigação. Deus é praticamente o jardineiro que faz tudo, ele age em nós sem precisar de esforços da nossa parte. O gosto, a suavidade e o deleite são incomparavelmente maiores que no estágio anterior. A passividade na oração torna-se intensa. As virtudes ficam mais fortes e a pessoa sente-se outra.
4º Oração de união extraordinária: agora é a água da chuva que cai, com abundância, para irrigar o jardim de forma gratuita. Neste grau da oração não há sentir, senão gozar sem se entender o que se goza. Predomina a fruição de um bem que encerra conjuntamente todos os bens. O orante possui uma relação íntima e amorosa com Deus, é uma verdadeira paixão. É a plena união com Deus."
Ou,
em outras palavras:
1ª – Oração Mental: é como tirar água do poço, quando rezamos com o
nosso intelecto.
2ª – Oração de Quietude: é como tirar água com a nora2 puxada por um
jumento, quando rezamos com a nossa vontade. É o nosso ser-criança que ora, é
ser Maria.
3ª - Oração de União ou Toques: é como água corrente. É um abandono em
Deus. É permitir que o Senhor nos ame. É orar com os nossos sentimentos e
emoções. Não se distrai. Nesta fase, ficamos apaixonados e entusiasmados e
começamos a ser Marta e a fazer obras.
4ª - Oração de União Extática ou Êxtase: é como o deixar chover. A alma
está absorvida por Deus. Só Deus basta.
Do
Livro da Vida, de Santa Teresa de Jesus ou Santa Teresa d’Ávila - Seção II.
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