sábado, fevereiro 09, 2013

Meditação e Oração



Tanto a meditação quanto a oração são maneiras adotadas para que o ser humano possa acessar os níveis espirituais de sua natureza, criando uma “ponte” que conecte a consciência prisioneira da matéria e seus níveis de transcendentais ligados à Deus, ou à ordem divina do universo, personificada pelos seres de luz, que são os auxiliares divinos ou cooperadores divinos.

A meditação é um processo mais silencioso e introspectivo, enquanto a oração é uma forma verbal de invocação ou de evocação.

Poderíamos afirmar que, na oração, o homem “fala com Deus”, enquanto na meditação, ele fica em silêncio, “escutando a voz de Deus”.

Nas religiões ocidentais, é mais difícil a prática da meditação, porque se imagina que Deus está “do lado de fora”. Para o sucesso da meditação, é necessário haver uma convicção prévia de que existe um princípio divino latente em nosso interior e que este princípio divino (atmã) pode ser sentido, acessado e conectado se a mente estiver em silêncio absoluto.

Essa possibilidade é estranha nas religiões ocidentais. Por isso, sempre que se fala em meditação na visão ocidental, está-se referindo ao processo de Reflexão e não ao de meditação, propriamente dita

Há muitos e diferentes conceitos e definições de meditação. Poderíamos apresentar como sugestão a que publicamos em nosso livro anterior, Lampejos*: Meditar é algo de uma simplicidade tão óbvia, que foge ao alcance de nossa mente complicada e fragmentada. Consiste simplesmente em afastar da mente aquilo que não é, para que no vácuo criado pelo silêncio daquilo que não é, possa aflorar aquilo que é.

Embora a meditação seja um processo aparentemente simples, não é fácil se chegar a esse “simples” devido à própria natureza da mente, cheia de ruídos, contradições, conflitos e inquietudes.

O grande desafio da meditação é como colocar a mente em silêncio, sem forçar a mente ao silêncio. O silêncio forçado nunca leva à meditação, porque é uma forma de controle violento sobre a substância mental. Por isso, a meditação usa artifícios para estabilizar as fases iniciais de introspecção, como a concentração em observar a respiração, imagens, símbolos, idéias universais, gurus etc. Isso é utilizado porque é mais fácil concentrar (dharana) a mente em um único objeto, antes de mergulhá-la no estado de abstração (pratyahara).

Quanto à oração, sua eficácia depende do grau de sinceridade, intencionalidade e impessoalidade envolvidas na prece.

Há diversos níveis de meditação, conforme os estados de espírito do emissor da prece.

As orações podem ser divididas em quatro níveis, do mais baixo ao mais elevado.

O nível mais baixo é oração Suplicante, em que o emissor da prece se coloca na posição de pedinte, usando a oração como uma solicitação para atendimento de suas necessidades.

Este tipo de oração não seria recomendável, se o ser humano vivesse em melhores condições de existência, sem tanto sofrimento, miséria e carência.
Até mesmo as grandes orações ensinadas por mestres iluminados admitem a oração suplicante, como no caso de “O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje”, ou “Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”. Com a existência humana frágil, sujeita às faltas de elementos básicos de subsistência, de proteção, de afeto e repleta de incertezas e angústias, torna-se normal, justo e razoável que o homem faça seus pedidos às forças espirituais, de modo a preencher sua vida de significado e garantir sua subsistência.

Existem, porém, níveis mais elevados de oração. Entre esses, podem-se citar as orações de Agradecimento, de Louvor e de Identificação.

Na oração de agradecimento, o emissor sai da posição de pedinte e carente e agradece a Deus o que tem, o fato de estar vivo e a sua participação no maravilhoso teatro da manifestação universal.

Neste tipo de oração, existe uma confiança intrínseca nas leis da vida. Mesmo que haja sofrimento, pobreza e morte, o emissor da prece sabe que tudo isso são apenas condições fugazes e momentâneas de sua existência e que todas essas condições são transitórias e fugazes diante da grandeza da vida imortal. Essa atitude de confiança fortalece enormemente o espírito, que recebe um influxo de força em consequência de sua atitude de confiança.

A oração de louvor é ainda mais elevada, porque, nesse tipo de oração, o emissor retira o foco de seu próprio eu e coloca esse foco na glória divina. Nesse tipo de oração, torna-se secundário o que “temos” ou o que “não temos”. O que importa é a grandeza de Deus em sua manifestação, em sua glória e em seu esplendor. O maior grau de impessoalidade desse tipo de oração abre mais ainda o canal, estabelecendo uma mais profunda e estável conexão com a fonte.

O quarto tipo citado, oração de identificação, vai ainda mais longe. É a resposta da alma diante da presença divina. Pode ser traduzida pela sentença de Tomé ao tomar conhecimento da presença divina manifestada em Jesus ressuscitado: “Meu senhor e meu Deus”.

Pode ser feita de forma mais complexa e elaborada pela locução dos nomes sagrados de Deus na Cabala hebraica ou no Sufismo islâmico, em que o fiel se embriaga e entra em êxtase com a locução dos nomes sagrados de Deus, em um processo muito semelhante à mantra yoga oriental.

É também a técnica de oração usada pelo movimento Hare Krishna e pelo hinduísmo, na evocação dos princípios divinos do universo: Hari Om Tat Sat Shit Ananda.

Tanto a oração falada quanto a silenciosa são “pontes” criadas para se unir a consciência humana à consciência divina.

MAGALHÃES, L. A.  Lampejos.  Belo Horizonte: Ophicina de Arte & Prosa, 1997.

Um comentário:

Unknown disse...

Oas pessoas precisão rezar mais