segunda-feira, março 25, 2013

Oração dos amigos


Pai Nosso



“De um ponto de vista antropológico, esta prece nos revela que o fundo de nosso ser é relação, tanto vertical, com a Fonte de nosso ser, quanto horizontal, com nossos irmãos e irmãs. O encontro dessas duas linhas, dessas duas palavras – “Pai” e “Nosso” – forma uma cruz que simboliza a união da imanência com a transcendência. Recitar o Pai-Nosso é estar nesse ponto de encontro entre o humano e o divino, entre o Todo Nosso e o Todo Outro.”

Jean Yves-Leloup, no Livro das Bem-aventuranças e do Pai-Nosso 

Anjo da Guarda

Sobre a Maneira de Rezar



Os preceitos evangélicos não são outra coisa, Irmãos Caríssimos, senão os ensinamentos divinos, fundamentos para edificar a esperança, provações para robustecer a fé, alimento para nutrir a alma, leme para dirigir a navegação, presídio para a salvação. Ao mesmo tempo que iluminam os crentes dóceis sobre a terra, guiam-nos até aos reinos celestes.

1. Deus quis que muitos ensinamentos nos fossem dados por meio dos Profetas, Seus Servos. Mas quão superiores são as palavras do Seu Filho, aquelas palavras que o Verbo de Deus, já ressonante nos Profetas, atesta com a Sua viva voz. Já não é alguém que vem aplanar os caminhos d'Aquele que há de vir, mas Aquele que veio e nos abre e mostra o caminho. Deste modo os que, antes, incautos e cegos cambaleavam nas trevas da morte, iluminados agora pela luz da graça, podem seguir na vida sob a guia e o governo de Cristo.

2. Entre outros conselhos salutares e ensinamentos divinos com os quais provê à salvação do Seu povo, Cristo deu também a norma da oração, e Ele mesmo nos mostrou e ensinou como devemos rezar. Aquele que nos deu a vida, ensinou-nos a pedir, com a mesma benevolência com que Se dignou dar-nos os outros bens. Assim rezando ao Pai com a oração do Filho, somos mais facilmente ouvidos.
Já antes tinha anunciado o dia em que os verdadeiros adoradores aprenderiam a adorar o Pai em espírito e em verdade (Jo. 4, 23), mas agora cumpre a promessa e faz de nós, santificados pelo espírito de verdade, verdadeiros e espirituais adoradores, conformes ao Seu ensinamento.

Que oração haverá mais espiritual do que aquela que nos ensinou Cristo, o qual enviou sobre nós o Espírito de Verdade? Que oração será mais verdadeira do que aquela que saiu dos lábios de Quem é a verdade?
Portanto, rezar de outra maneira diferente da que Cristo nos ensinou, não só é um ato de ignorância, mas uma culpa, pois Ele mesmo disse: “Vós rejeitastes o mandamento de Deus para acreditar na vossa doutrina” (Mc.7,8).

3. Seja a nossa oração a que o nosso Mestre nos ensinou. É cara e familiar a Deus a oração composta pelo Seu mesmo Filho. Assim, quando rezamos, o Pai reconhece as palavras do Filho.
Aquele que é hóspede do nosso coração esteja também nos nossos lábios. Se Cristo está junto do Pai como advogado para os nossos pecados, nós pecadores devemos rogar o perdão dos pecados com as mesmas palavras do Advogado. De fato, se Ele nos prometeu obter tudo o que pedirmos ao Pai em Seu Nome (Jo. 16, 23), quanto mais eficazmente obteremos o que pedimos em Nome de Cristo se o pedimos com a Sua mesma oração?

4. Os que rezam, tenham devoção à doçura das palavras. Pensemos estar na presença de Deus e por isso devemos ser aceites aos Seus olhos pela atitude do corpo e pela maneira como rezamos. Como é imprudente quem pede sem piedade, assim a oração convém que seja em tom respeitoso e submisso. O Senhor ensinou-nos a rezar no silêncio e nos lugares escondidos das nossas casas. Esta atitude é mais adequada à nossa fé para que saibamos e jamais olvidemos que Deus está em toda a parte, vê tudo e atende a todos, enche com a plenitude da Sua majestade os lugares mais recônditos.
Está escrito: “Não sou Eu o Deus do alto e o Deus que está a teu lado? Se o homem se esconde, deixo acaso de o ver? Não sou Eu que encho o céu e a terra?” (Jr. 23, 23-24). “Em todo o lugar os olhos de Deus observam os bons e os maus” (Pv. 15,3). E quando nos juntamos aos outros irmãos para celebrar com o Sacerdote o Sacrifício divino, devemos recordar-nos de ser devotos e disciplinados na oração e não espalhá-la ao vento numa seqüência de palavras, nem dirigi-Ia a Deus precipitadamente, mas sim com propósitos. Deus não escuta a voz, mas o coração. Deus, que perscruta os pensamentos humanos, não quer ser rogado com gritos. Diz assim o Mestre: “Que andais vós a ruminar nos vossos corações” (Lc. 5, 22) e ainda: “Todas as Igrejas saibam que Eu perscruto os rins e os corações” (Ap. 2, 23).

5. Já nos mostra isto o primeiro Livro dos Reis com o exemplo de Ana, figura da Igreja. Ana rezava ao Senhor não com palavras clamorosas mas na humildade e no silêncio com o seu coração. A sua oração era oculta, mas era manifesta a sua fé. Falava com o coração e não com a boca, porque só assim era ouvida por Deus. Por isso obteve o que pediu, porque rezou com fé, como atesta a Sagrada Escritura: “Falava no seu coração. Os seus lábios moviam-se, mas não se percebia a sua voz. E Deus escutou-a” (1 Re. 1, 13). O mesmo se lê nos Salmos (5, 5): “Pensai no silêncio dos vossos quartos”. Jeremias põe na boca de Deus estas palavras: “Encontrar-Me-eis se Me procurardes com todo o coração” (Jr. 24, 13).

6. Quando rezarmos não esqueçamos o publicano no templo, que não ousava levantar os olhos ao céu nem se atrevia a elevar as mãos, mas batia no peito em sinal de detestação dos seus pecados, e assim pedia a ajuda da misericórdia divina. Enquanto o fariseu se comprazia a si mesmo, o publicano, com a sua oração, mereceu ser santificado mais, visto que colocou a esperança da sua salvação não na sua inocência - pois ninguém é inocente - mas na humilde confissão dos seus pecados. E, Aquele que do Céu perdoa os humildes, ouviu a sua oração, como se lê na parábola evangélica que se segue: «Dois homens subiram ao templo para rezar; um era fariseu, o outro era publicano. O fariseu, de pé, rezava assim: “Eu Te dou graças, ó Deus, porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros; nem tão pouco sou como aquele publicano. Eu jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus bens”. O publicano, ao contrário, lá longe, nem se atrevia a erguer os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador”. Pois Eu vos digo que este voltou justificado para sua casa. Não aconteceu o mesmo com o outro, pois quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Lc. 18, 10-14).

Também os Apóstolos, com todos os discípulos, rezavam assim depois da Ascensão do Senhor: «Perseveravam todos unanimemente na oração, com as mulheres e com Maria, Mãe de Jesus, e com os Seus irmãos» (At. 1, 14). Perseveravam concordemente na oração e assim demonstravam, com a assiduidade e unanimidade da sua oração, que Deus «faz habitar sob o mesmo teto todos os que estão de acordo» (Sl. 57, 7) e não admite à Sua divina e eterna habitação senão aqueles cuja oração é comum e unânime.

São Cipriano, Bispo de Cartago (+258)

Oração da Criança



Querido Deus,
gosto muito de você,
gosto do Papai, da Mamãe,
dos meus parentes e de
todos os meus amigos.
Deus, obrigado pelos brinquedos,
pela escola, pelas flores,
pelos animais e por todas as coisas
boas e bonitas que você fez.
Quero que todas as crianças
conheçam e gostem de você.
Obrigado Deus, você é muito bom.

Silêncio e Oração



A tradição espiritual e ascética sempre reconheceu a essencialidade do silêncio para um verdadeiro caminho espiritual e de oração. “A oração tem como pai o silêncio e como mãe a solidão”, disse um grande homem espiritual. Só o silêncio, de fato, torna possível a escuta, isto é, o acolhimento em si não só da Palavra, mas também da presença daquele que fala. Assim, o silêncio abre o cristão à experiência da inabitação de Deus: o Deus que procuramos seguindo na fé Cristo ressuscitado, é o Deus que não é estranho a nós mas habita em nós. Diz Jesus no quarto Evangelho: “Se alguém me tem amor, há de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos morada” (Jo 14,23). O silêncio é linguagem de amor, de profundidade, de presença do outro.

Infelizmente, hoje o silêncio é raro, é a coisa que mais falta ao homem moderno, assoberbado por murmúrios, bombardeado por mensagens sonoras e visuais, derrubado da sua interioridade, quase caído longe dela.

É preciso confessar: temos necessidade do silêncio! Temos necessidade dele de um ponto de vista puramente antropológico, porque o homem, que é um ser de relação, comunica de modo equilibrado e significativo apenas graças à relação harmónica entre palavra e silêncio. Contudo, temos necessidade de silêncio também do ponto de vista espiritual, como alimento primário da nossa oração e da vida interior. Para o cristianismo o silêncio é uma dimensão não apenas antropológica, mas teológica: sozinho no monte Horeb, o profeta Elias ouviu primeiro um vento impetuoso, depois um terremoto, em seguida um fogo e por fim o “murmúrio de uma brisa suave” (1 Re 19,12). Ao ouvir esta última, Elias cobriu o rosto com um manto e colocou-se na presença de Deus. Deus torna-se presente a Elias no silêncio, um silêncio eloquente. A revelação do Deus bíblico não passa só pela palavra, mas acontece também no silêncio.

Inácio de Antioquia diz que Cristo é “a Palavra que procede do silêncio”. O Deus que se revela no silêncio e na palavra exige a escuta do homem e para a escuta é essencial o silêncio. Não se trata, por certo, de abster-se simplesmente de falar, mas do silêncio interior, aquela dimensão que nos devolve a nós próprios, que nos coloca sobre o plano do ser, diante do essencial. “No silêncio está inserido um maravilhoso poder de observação, de clarificação, de concentração sobre as coisas essenciais” (Dietrich Bonhoeffer). É do silêncio que pode nascer uma palavra aguda, penetrante, comunicativa, sensata, luminosa, ousaria mesmo dizer terapêutica, capaz de consolar. O silêncio é o guardião da interioridade.

É verdade que se trata de um silêncio definido tão negativamente como sobriedade e disciplina no falar, até chegar à abstenção das palavras, mas que passa deste primeiro momento para uma dimensão interior, isto é, o fazer calar os pensamentos, as imagens, as revoltas, os juízos, os murmúrios que nascem no coração.

De fato, é “do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos” (Mc 7,21). É difícil o silêncio interior, aquele que se joga no coração, lugar de luta espiritual, mas este silêncio profundo gera caridade, atenção, acolhimento, empatia diante do outro.

Sim, o silêncio escava no mais profundo de nós um espaço para fazer habitar o Outro, para deixar permanecer na sua Palavra, para radicar em nós o amor pelo Senhor; ao mesmo tempo, em ligação a isto, dispõe-nos à escuta inteligente, à palavra medida, ao discernimento do coração do outro, daquilo que o queima no seu íntimo e que está encerrado no silêncio do qual nascem as suas palavras. O silêncio, então aquele silêncio, suscita em nós a caridade, o amor pelo irmão e, por consequência, a capacidade de intercessão, de oração pelo outro, bem como a ação de graças pelo encontro que aconteceu. Assim o duplo mandamento do amor de Deus e do próximo é cumprido por quem sabe guardar o silêncio. Por isso, Basílio pôde dizer: “O silencioso torna-se fonte de graça para quem escuta”. Neste ponto, pode repetir-se, sem receio de cair em mera retórica, a afirmação de E. Rostand: “O silêncio é o canto mais perfeito, a oração mais alta”. Ao conduzir à escuta de Deus e ao amor pelo irmão, à caridade autêntica, isto é, à vida em Cristo (e não a um vazio interior genérico e estéril), o silêncio é oração verdadeiramente cristã e agradável a Deus. É este o silêncio que chega a nós de uma longa história espiritual, é o silêncio procurado e praticado pelos hesicastas para obter a unificação do coração, é o silêncio da tradição monástica finalizado no acolhimento em si da palavra de Deus, é o silêncio da oração de adoração da presença de Deus, é o silêncio caro aos místicos de qualquer tradição religiosa e, acima de tudo, é o silêncio do qual é rica a linguagem poética, é o silêncio que constitui a própria matéria da música, é o silêncio essencial a qualquer ato comunicativo.

O silêncio, acontecimento de profundidade e de unificação, torna eloquente o corpo, conduzindo-nos a habitar o nosso corpo, a habitar a nossa vida interior, guiando-nos ao habitare secum tão precioso para a tradição monástica. O corpo habitado pelo silêncio torna-se revelação da pessoa. O cristianismo contempla Jesus como Palavra feita carne, mas também como silêncio de Deus: os evangelhos mostram um Jesus que, quanto mais se adentra na paixão, cada vez mais se cala, entra no silêncio, como cordeiro sem voz, como aquele que, conhecendo a verdade, sabendo o indizível fundo da realidade, não pode nem quer trair o inefável com a palavra, mas guarda-o com o silêncio. Jesus que “não abre a sua boca” mostra o silêncio como aquilo que é verdadeiramente forte, faz do seu silêncio um ato, uma ação. E precisamente por isso poderá fazer também da sua morte um ato, um gesto de um vivente, para que seja claro que por trás da palavra e do silêncio, aquilo que é verdadeiramente salvífico é o amor que vivifica um e outro.

FONTE: 
Fr. Enzo Bianchi
Prior da Comunidade Monástica de Bose - Itália 

Regra para a Oração



De São Teófano, o Recluso

Regra para a oração, para quem está no caminho de uma vida para servir à Deus:
1. «Memorizar o Salmos»;
2. «Substituir as preces longas pelas curtas»;
3. «O rosário de oração.»

Você pergunta sobre uma regra de oração. Sim, é bom ter uma regra de oração devido à nossa fraqueza para que, por um lado, não nos rendamos à nossa preguiça, e por outro, limitemos nosso entusiasmo à sua medida adequada. Os maiores praticantes de oração seguiam uma regra de oração. Eles sempre começavam com preces já existentes e se, durante o curso das mesmas, uma prece se sobressaísse, eles deixariam de lado as outras e rezariam tal oração [a da prece que se sobressaiu]. Se isto é o que os grandes praticantes faziam, há todas as razões para que o façamos também. Sem preces estabelecidas, nós não saberíamos rezar, absolutamente. Sem elas, seríamos deixados inteiramente sem preces.

Contudo, as pessoas não têm que fazer muitas preces. É melhor fazer um número menor, corretamente, do que apressar-se e fazer muitas, porque é difícil manter o calor do zelo quando são feitas em excesso.

Eu consideraria as preces matinais e noturnas inteiramente suficientes. Apenas tente, cada vez, conduzi-las com plena atenção e sentimentos que correspondam.

Para obter melhores resultados, dedique um pouco do seu tempo lendo as preces separadamente. Pense sobre elas e sinta-as para que, ao recitá-las na sua regra de oração, você perceba quais os pensamentos e sentimentos sagrados estão contidos nelas. A oração não significa, apenas, que as recitemos, mas que assimilemos seu conteúdo e as pronunciemos, como se saíssem de nossas mentes e corações.

Após ter analisado e sentido as preces, procure memorizá-las. Então, você não terá que manusear seu livro [de orações] e a luz [necessária à leitura] quando for a hora de rezar; tampouco você se distrairá por qualquer coisa que veja enquanto reza, podendo, mais facilmente, manter uma súplica mais conscienciosa para com Deus. Você verá por si o quanto isto ajuda. Manter o livro com você o tempo todo e em todos os lugares [na mente e no coração] é de grande importância.

Estando assim preparado, ao realizar a prece, tome cuidado para que sua mente não vagueie nem se renda à frieza e indiferença, esforçando-se a qualquer custo para manter sua atenção e para manter o calor do sentimento.

Após recitar as preces, faça prostrações, quantas quiser, acompanhadas por uma prece para qualquer necessidade que você sinta, ou usando sua prece curta [sua pequena prece] de costume. Isto prolongará um pouco seu tempo de prece, mas seu poder aumentará. Você deve orar um pouco mais, especialmente no final, pedindo perdão por desvios sem intenção e colocando-se nas mãos de Deus o dia inteiro.

Você também deve manter uma atenção especial a Deus ao longo do dia. Para isso, como já foi mencionado mais de uma vez, há uma lembrança de Deus; e para lembrar-se de Deus há preces curtas. É muito, muito bom memorizar vários salmos, recitando-os enquanto se está trabalhando ou no intervalo entre tarefas, ao invés de preces curtas. Este é um dos mais antigos costumes cristãos, mencionado e incluído nas regras de São Pacômio e Santo Antão.

Depois de passar o dia desta maneira, você deve rezar mais diligentemente e com mais concentração à noite. Aumente suas prostrações e pedidos a Deus; depois de se posicionar com as mãos unidas (no Divino) novamente, vá dormir com a prece curta nos seus lábios e durma com ela ou recite um salmo.
Que salmos você deveria memorizar? Memorize os que tocam seu coração ao lê-los. Cada pessoa encontrará um salmo que gere mais efeito para ela. Comece com "Tem piedade de mim, meu Deus" (Salmo 51 [50]); então "Bendize o Senhor, ó minh´alma"(Salmo 103 [102]); e o "Ó minh´alma, louva o Senhor" (Salmo 146 [145]). Estes dois últimos são os hinos antífonos na Liturgia. Há também salmos no Cânone para a Comunhão Divina: "O Senhor é meu pastor" (Salmo 23 [22]); "Ao Senhor, a terra e suas riquezas, o mundo e seus habitantes" (Salmo 24 [23]); "Eu amo o Senhor, pois Ele ouve a minha voz suplicante"(Salmo 116 [114-115]); e o primeiro salmo da vigília noturna, "Ó Deus, vem libertar-me" (Salmo 70 [69]).

Há os Salmos das horas e os semelhantes. Leia o Livro dos Salmos e selecione.

Após ter memorizado todos estes, você sempre estará plenamente munido de preces. Quando algum pensamento perturbador lhe ocorrer, apresse-se em abaixar-se diante do Senhor, tanto com uma prece curta, quanto com um dos Salmos, especialmente "oh Senhor, seja atencioso ao ajudar-me", e a nuvem perturbadora irá se dispersar imediatamente.

Aí está tudo sobre uma regra para prece. Contudo, mencionarei mais uma vez que você deveria se lembrar de todas estas ajudas e a coisa mais importante é estar diante de Deus com a mente e coração, com devoção e prostração sincera a Ele.

Pensei em algo para lhe dizer! Você pode limitar a regra de oração inteira apenas a prostrações com preces curtas e preces com suas próprias palavras. Fique em pé e faça prostrações, dizendo "Senhor, tenha misericórdia", ou qualquer outra prece, expressando sua necessidade ou louvando e agradecendo a Deus. Você deveria estabelecer tanto um número de preces quanto um limite de tempo para a prece, ou ambos, para que você não fique preguiçoso.

Isto é necessário porque há uma certa peculiaridade incompreensível a nosso respeito. Quando, por exemplo, saímos para alguma atividade, as horas passam como se fossem minutos. Quando rezamos, contudo, mal alguns minutos se passaram e parece que estivemos rezando por um tempo muito longo. Este pensamento não é prejudicial quando rezamos segundo uma regra estabelecida; mas quando alguém reza, fazendo prostrações com preces curtas, isto apresenta grande tentação. Isto pode pôr fim a uma prece que mal começou, deixando a falsa certeza de que ela foi feita devidamente. Então, os bons praticantes deveriam utilizar rosários de preces para que não se submetessem a essa auto-decepção. Rosários de preces são sugeridos para aqueles que desejam rezar usando suas próprias preces, que não as do livro. Eles são utilizados da seguinte maneira: diga "Senhor Jesus Cristo, tenha misericórdia de mim, um pecador" , e mova uma conta do rosário entre seus dedos. Repita a prece novamente e mova uma outra conta, e assim por diante.

Faça uma prostração em cada repetição da prece, como preferir, tanto parcial (com a cintura), como a completa (estendendo-se sobre o chão); ou, para as contas pequenas, faça a prostração da cintura e, para as maiores, faça a completa no chão. A regra em tudo isto consiste em ter um número definido de repetições de preces, com prostrações às quais são adicionadas outra preces, com suas próprias palavras. Ao decidir o número de prostrações ou preces, estabeleça um limite de tempo para que você não se engane e não se apresse ao executá-las. Se você terminar antes do esperado, poderá preencher o tempo fazendo mais prostrações.

O número de prostrações que devem ser feitas para cada prece é estabelecida ao final do livro de Salmos, com seqüências em duas categorias: uma para pessoas diligentes e outra para os preguiçosos ou ocupados. Os anciães que vivem hoje conosco em sketes ou kellia especiais, em lugares como Valaam ou Solovki fazem toda sua prática dessa forma. Se você tiver vontade de conhecer, agora ou em outra ocasião, você pode executar sua própria regra de prece dessa maneira. Antes disso, contudo, acostume-se a fazê-lo da maneira prescrita para você. Talvez você não precisará de uma nova regra. De qualquer forma, estou lhe enviando um rosário de preces.

Experimente! Anote quanto tempo você leva nas preces matinais e noturnas, então sente-se e recite suas preces curtas com o rosário e veja quantas voltas você deu no rosário durante o tempo geralmente necessário para a prece. Faça com que seja essa a medida para sua regra. Faça isto não durante seu horário de oração habitual, mas em qualquer outro momento, embora fazendo-o com a mesma atenção. A regra de oração é então conduzida desta maneira, levantando-se e fazendo-se reverências.

Depois de ler isto, não pense que eu vou te levar para um monastério. A primeira vez que ouvi a respeito de rezar com um rosário, foi de um praticante leigo, não de um monge. Muitas pessoas leigas ou monásticas rezam desta maneira. Deveria ser adequado para você também. Quando você está recitando preces que você memorizou e elas não te tocam, você pode, neste dia, rezar usando o rosário e fazer preces decoradas num outro dia. Desta forma as coisas vão melhorar.

Repito que a essência da prece é elevar a mente e o coração a Deus; estas pequenas regras são uma ajuda. Nós não podemos progredir sem elas, em função da nossa fraqueza. Que Deus te abençoe!

Oração De São Efrém, O Sírio



Esta oração deve ser rezada durante toda a Quaresma, da 2a- a 6a-feira, no final das orações da manhã e da noite. Esta oração é também rezada durante as missas da semana:

Senhor e Mestre da minha vida,
afasta de mim o espírito de preguiça,
o espírito de dissipação, de domínio e de vã loquacidade.
(Prostração)

Concede a teu servo o espírito de temperança,
de humildade, de paciência e de caridade.
(Prostração)

Sim, Senhor e Rei,
concede-me que eu veja as minhas faltas
e que não julgue a meu irmão,
pois Tu és bendito pelos séculos dos séculos. Amém.
(Prostração)

O Rosário» Ortodoxo - A oração de Jesus



Há um tipo de oração privada, largamente usada no oriente desde o tempo da Contra-Reforma, que nunca foi um aspecto da espiritualidade Ortodoxa - a "meditação" formal, feita de acordo com um "método": o Inaciano, o Sulpiciano, o Salesiano ou algum outro. Os ortodoxos são encorajados a ler a Bíblia ou os Padres, vagarosa e reflexivamente, mas tal exercício, embora tido como excelente no geral, não é considerado uma oração nem tem sido sistematizado nem transformado em um "método". Cada qual é incentivado a ler da maneira que achar mais conveniente.

Mas, embora os ortodoxos não pratiquem meditação discursiva, há outro tipo de oração pessoal que, por muitos séculos, tem exercido um papel extraordinariamente importante na vida da "Ortodoxia": a Oração de Jesus - "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador".

Como às vezes é dito que os ortodoxos não dão suficiente atenção à pessoa de Jesus Encarnado, é válido sublinhar que essa - certamente a mais clássica de toda as orações ortodoxas - é essencialmente uma oração cristocêntrica, uma oração endereçada ao Senhor Jesus e centrada n'Ele. Àqueles que são criados na tradição da Oração de Jesus jamais é permitido esquecer o Cristo Encarnado.

Para auxiliar na recitação dessa oração, muitos ortodoxos usam um rosário, de estrutura um tanto diferente daquela do rosário ocidental. O rosário ortodoxo é quase sempre feito de lã, de forma que, diferentemente do cordão de esferas, não faz nenhum barulho.

A Oração de Jesus é uma oração de maravilhosa versatilidade. É uma oração para iniciantes, mas, ao mesmo tempo, uma oração que leva aos mais profundos mistérios da vida contemplativa. Pode ser usada por qualquer um, a qualquer momento, em qualquer lugar: nas filas, andando, viajando de ônibus ou trem, no trabalho, quando não se consegue dormir à noite ou em momentos de especial ansiedade, quando é impossível concentrar em outros tipos de oração. Mas, enquanto todo cristão pode, naturalmente, recitar a Oração de Jesus de forma ocasional, uma outra história é recitá-la mais ou menos continuamente e fazer os exercícios físicos associados a ela. Escritores espirituais ortodoxos insistem em dizer que aqueles que usam sistematicamente a Oração de Jesus deveriam, se possível, aconselhar-se com um diretor experiente e não deveriam fazer nada por iniciativa própria.

Para alguns, chega uma hora em que a Oração de Jesus "entra no coração", de maneira que ela não é mais recitada por um esforço deliberado, mas espontaneamente, continuando mesmo quando a pessoa fala ou escreve, presente nos seus sonhos, acordando-a de manhã. Nas palavras de Santo Isaac, o Sírio: "Quando o Espírito faz sua morada num homem, ele não cessa de rezar, porque o Espírito vai rezar constantemente nele. Então, nem quando ele dorme, nem quando está acordado, a oração será tirada de sua alma; mas, quando ele come e quando ele bebe, quando ele se deita ou quando faz qualquer trabalho, mesmo quando está em profundo sono, os perfumes da oração respirarão no seu coração espontaneamente" (Tratados Místicos, editado por Wensinek, p. 174).

Os ortodoxos acreditam que o poder de Deus está presente no Nome de Jesus, de forma que a invocação de seu Divino Nome atua "como um sinal efetivo da ação de Deus, como uma espécie de sacramento" (Un Moine de l'Église d'Orient, La Priére de Jésus, Chevetogne, 1952, p. 87). "O Nome de Jesus, presente no coração humano, comunica-lhe o poder de deificação... Brilhando através do coração, a luz do Nome de Jesus ilumina todo o universo" (S. Bulgarov, The Ortodox Church, pp 170-171).

Tanto aqueles que a recitam continuamente quanto os que a recitam ocasionalmente têm, na Oração de Jesus, uma grande fonte de segurança e júbilo. Citando o Peregrino: "E é assim que eu ando agora e, incessantemente, repito a Oração de Jesus, que é para mim mais doce e preciosa que qualquer outra coisa no mundo. Às vezes, eu ando até 43 ou 44 milhas num dia e nem sinto que estou caminhando. Tenho consciência apenas de estar recitando minha oração. Quando o frio intenso me penetra, começo a recitar minha oração com mais intensidade e, rapidamente, me aqueço todo. Quando a fome começa a me perturbar, chamo mais freqüentemente o Nome de Jesus e esqueço minha vontade de comer. 

Quando fico doente e o reumatismo ataca minhas costas e pernas, eu fixo meus pensamentos na oração e não sinto a dor. Se alguém me faz mal, tenho apenas que pensar: 'como é doce a Oração de Jesus', e tanto o ferimento quanto a raiva passam e esqueço tudo... Agradeço a Deus porque agora compreendo o significado destas palavras ouvidas na epístola: 'rezai sem cessar' (1Tes 5, 17) (O Caminho do Peregrino, p 17-18 /The Way of the Pilgrim)".

Bispo Kallistos Ware

Kombuskini ou Cordão de Oração



A origem do Cordão de Oração é atribuída ao tempo de fundação do monaquismo cenobítico. São Pacômio, o Grande (século IV), foi quem o introduziu como uma maneira de ajudar os monges analfabetos a cumprirem sua regra de oração diária, alcançando um certo número de orações e prostrações. Desde então, o Cordão de Oração passou a ganhar popularidade no monaquismo oriental, e tem sido de uso comum entre os cristãos. De acordo com a sua regra, cada monge se obriga a cumpri um número fixo de prostrações, juntamente com a Oração de Jesus - «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, que sou pecador».

Oração com Kombuskini:

«Senhor, tem piedade de mim!»
«Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!»
«Senhor Jesus Cristo, pela intercessão do nossa Senhora, tem piedade de mim!»

Esta oração deve ser dita em cada um dos nós, quando se  está rezando com o cordão.

Para intenções especiais, substitui-se o seu próprio nome pelo nome da pessoa por quem se está rezando. O mesmo se faz quando se está pedindo por uma pessoa já falecida.

«Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de N. ....» [nome da pessoa por  quem se reza]

Descrição do Kombuskini:

O Kombuskini é feito de pura lã para nos lembrar que Jesus é o cordeiro de Deus.  É negro para recordar o luto pelos nossos pecados, ou de cor vinho para nos lembrar do sangue de nosso Senhor, ou ainda branco, que é a cor natural do cordeiro.

A Cruz nos recorda Jesus, e serve como uma marca a cada 10, 25, 50 ou 100 nós.

O pendão (borla) que existe em alguns Komboskinis, recorda-nos o consolo de nossas lágrimas.

Tipos de kombuskini:

Kombuskini para utilização no pulso.
Kombuskini para ter na cabeceira da cama.
Kombuskini para o Iconostase.

Utilidade dos kombuskini:

A principal razão pela qual se usa o Kombuskini é como auxílio em nossas orações a Deus.

A melhor hora para fazermos nossas orações poderia ser a noite, antes de dormirmos, ou no início da manhã, antes de irmos para o trabalho. Diz-se que, mesmo sem o Kombuskini, nós podemos elevar a Deus as nossas orações, e é verdade. Porém, frequentemente, somos tomados de tantas preocupações, tantos problemas que nos esquecemos de dedicarmos um tempo para as nossas orações. É quando o Kombuskini de punho pode nos ajudar, mesmo enquanto estamos no ônibus, ou no metrô, enquanto caminhamos esperamos por alguém ou, simplesmente, quando estamos em nossas casas, nos momentos reservados para a oração.

Com o cordão de oração na mão, o monge recorda continuamente a sua tarefa principal: a de rezar incessantemente, o que o apóstolo Paulo não exigiu apenas dos monges, mas de todos os cristãos em geral (ITs 5:17). É por isso que um monge recentemente tonsurado recebe imediatamente de seu abade um cordão de oração com a exortação: «Aceita irmão N. ...,  a espada espiritual que é a palavra Deus em Jesus, o eterno. Reza, pois deves ter o nome do Senhor em tua alma, em teus pensamentos, em teu coração, e diga sempre: «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, que sou pecador».

Todos aqueles que cuidam de sua salvação estão convidados a esta recordação incessante do Nome salvador de Jesus, monges e as pessoas em geral.

FONTE:
Texto pesquisado na Internet
Tradução do espanhol por Pe. André Sperandio

Esinamento de Jesus, no Evangelho de São Mateus



"E quando rezardes, não sejais como os hipócritas que gostam de fazer suas orações de pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade , eu vos digo: já receberam a sua recompensa. Quanto a ti, quando quiseres orar, entra em teu quarto mais retirado, tranca a tua porta , e dirige a tua oração ao teu Pai que está ali, no segredo. E teu Pai , que vê no segredo, te retribuirá. Quando orardes, não multipliqueis palavras como fazem os pagãos; eles imaginam que pelo muito falar se farão atender. Não vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe do que precisais, antes que lho peçais. (Mt 6, 5-8)"

A Oração do Nome de Jesus



«Convém que sejamos Cristo, Deus-Verbo.
Isto acontece quando vivemos na Igreja
e participamos de seus Santos Sacramentos.»

A Igreja está significada nos Santos Sacramentos, não como em símbolos, senão, como no coração estão significados os membros, como na raiz de uma árvore seus ramos, segundo a expressão do Senhor, como na vinha seus sarmentos.

Este fruto se obtém pela repetição incessante do Nome de Jesus. A memorização da oração de Jesus:
“Senhor Jesus Cristo, filho de Deus, tem piedade de mim pecador”!

Sobretudo quando esta oração está estreitamente ligada à Sagrada Comunhão. Nesta oração está escondida a Teologia da nossa santa Igreja Ortodoxa. Por isso convém que recordemos constantemente do dulcíssimo Nome de Jesus
.
A oração não é só para os monges, é possível viver constantemente com ela; também nós que somos pecadores, podemos dizê-la. Consagremos uma hora determinada a este fim.

Comecemos 10 minutos pela manhã e dez pela tarde, repetindo-a com toda tranqüilidade possível. É muito importante consagrar um tempo, ainda que seja pouco, mas não deixar de fazê-lo nunca. Com o tempo os momentos de oração aumentarão e a alma e os lábios se tornarão doces...

Digamo-la então enquanto caminhamos e antes de deitarmos, sempre que tenhamos tempo disponível. O casal e a família em conjunto podem dizê-la juntos, pela manhã e pela tarde. Um a pronuncia com voz tranqüila e serena e os demais a escutam. Muitos casais e famílias têm adotado e tem visto milagres. Os que querem aprofundar e progredir nela, necessitarão de um pai espiritual experiente.

A Oração do Coração



A  oração hesicástica, que leva ao descanso em que a alma habita com Deus, é a oração do coração. Para nós que damos tanta importância à mente, aprender a rezar com o coração e a partir dele tem importância especial. Os monges do deserto nos mostram o caminho. Embora não exponham nenhuma teoria sobre a oração, suas narrativas e seus conselhos concretos apresentam as pedras com as quais os autores espirituais ortodoxos mais tardios construíram uma espiritualidade magnífica. Os autores espirituais do monte Sinai, do monte Atos e os startsi da Rússia oitocentista apóiam-se todos na tradição do deserto. Encontramos a melhor formulação da oração do coração nas palavras do místico russo Teófano, o Recluso: "Rezar é descer com a mente ao coração e ali ficar diante da face do Senhor, onipresente, onividente dentro de nós". No decorrer dos séculos, essa perspectiva da oração tem sido central no hesicasmo. Rezar é ficar na presença de Deus com a mente no coração, isto é, naquele ponto de nossa existência em que não há divisões nem distinções e onde somos totalmente um. Ali habita o Espírito de Deus e ali acontece o grande encontro. Ali, coração fala a coração, porque ali ficamos diante da face do Senhor, onividente, dentro de nós. É bom saber que aqui a palavra "coração" é usada em seu sentido bíblico pleno. em nosso meio, ela se tornou lugar-comum. Refere-se à sede da vida sentimental. Expressões como "coração partido" e "sentido no coração" mostram ser comum pensarmos no coração como o lugar quente onde se localizam as emoções, em contraste com o frio intelecto onde têm lugar nossos pensamentos. Mas, na tradição judeu-cristã, a palavra "coração" refere-se à fonte de todas as energias físicas, emocionais, intelectuais, volitivas e morais.

No coração, originam-se impulsos impenetráveis, além de sentimentos, disposições e desejos conscientes. O coração também tem suas razões e é o centro da percepção e do entendimento. Finalmente, ele é a sede da vontade: faz planos e chega a uma boa decisão. Assim, é o órgão central e unificador de nossa vida pessoal. Nosso coração determina nossa personalidade e é, portanto, não só o lugar onde Deus habita mas também o lugar ao qual Satanás dirige seus ataques mais ferozes. Esse coração é o lugar da oração. A oração do coração dirige-se a Deus a partir do centro da pessoa e, assim, afeta toda a nossa compaixão.
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Assim, a oração do coração é a oração da verdade. Desmascara as muitas ilusões sobre nós mesmos e sobre Deus e nos conduz ao verdadeiro relacionamento do pecador com o Deus misericordioso. Essa verdade é o que nos dá o "descanso" do hesicasta. Quando ela se abriga em nosso coração, somos menos distraídos por pensamentos mundanos e nos voltamos mais sinceramente para o Senhor de nossos corações e do universo. Assim, as palavras de Jesus: "Felizes os corações puros: eles verão a Deus" (Mt 5,8) tornam-se reais em nossa oração. As tentações e as lutas continuam até o fim de nossas vidas, mas com um coração puro ficamos tranqüilos, mesmo em meio a uma existência agitada.
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Isso levanta o problema de como praticar a oração do coração em um ministério bastante agitado. É a essa questão de disciplina para a qual precisamos agora voltar a atenção.
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Oração e Ministério
Como nós, que não somos monges nem vivemos no deserto, praticamos a oração do coração? Como ela influencia nosso ministério cotidiano?
A resposta a essa pergunta está na formulação de uma disciplina definitiva, uma regra de oração. As características da oração do coração que nos ajudam a formular essa disciplina:
A oração do coração alimenta-se de orações breves e simples.
A oração do coração é incessante.
A oração do coração inclui tudo.
Alimenta-se de Orações Breves
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Vimos como a oração do coração se nutre de orações breves, é incessante e inclui tudo. Essas três características mostram como a oração do coração é o alento da vida espiritual e de todo o ministério. Na verdade, essa oração não é apenas uma atividade importante, mas o próprio centro da nova vida que queremos representar e na qual queremos iniciar nosso povo. As características da oração do coração deixam claro que ela exige uma disciplina pessoal. Para levar uma vida de oração não podemos passar sem orações específicas. Precisamos dizê-las de uma forma que nos ajude a ouvir melhor o Espírito que reza em nós. Precisamos continuar a incluir em nossa oração todas as pessoas com as quais e para as quais vivemos e trabalhamos. Essa disciplina vai nos ajudar a passar de um ministério entontecedor, fragmentário e muitas vezes frustrante para um ministério integrador, holístico e muito gratificante. Ela não vai facilitar o ministério, mas simplificá-lo; não vai torná-lo doce e piedoso, mas sim espiritual; não vai fazê-lo indolor e sem lutas, mas tranqüilo no verdadeiro sentido hesicástico."

Fonte: "A Espiritualidade do Deserto e o Ministério Contemporâneo - O Caminho do Coração" - por Henri J. M. Nouwen